Hoje venho lhes falar sobre um filme: Encaixotando Helena ( Boxing Helena).
Ah.. o amor é algo tão lindo, não é? Como é romântico um homem mandando flores e bilhetes descrevendo sobre seu profundo e forte amor pela mulher amada... Mas até que ponto o amor pode chegar?
Ontem de noite eu estava atoa na internet e acabei me deparando com algumas críticas à um antigo filme, Boxing Helena (1993). Ali, lendo aquelas críticas, fiquei extremamente curiosa para assistir a esse filme que despertou a repugnação e desconforto em tantas pessoas... foi aí que, assistindo às primeiras cenas do filme, pude perceber que se tratava de uma história muito intensa e complexa, que só assistindo com muita atenção para poder tirar conclusões satisfatórias. Vou deixá-los com a sinopse:
Nick Cavanaugh (Julian Sands), um famoso cirurgião, fica
obcecado pela beleza de Helena (Sherilyn Fenn), uma prostituta. Ela o rejeita,
mas mesmo assim ele tenta convencê-la que um necessita do outro. No entanto ela
tem outros planos, mas acaba sendo vítima de um terrível acidente que a deixa
nas mãos do médico, que tem então uma macabra idéia para não mais perdê-la.
Bom, começando pelo ponto de partida, o telespectador tem que ter em mente que Nick é um grande cirurgião que vem de uma família muito rica que tem por lema o seguinte: "A persistência e o trabalho duro, irão te conceder tudo o
que quiseres".
Seu pai era um cirurgião muito ocupado, que tentava compensar a sua ausência com dinheiro e luxos. Sua mãe era uma mulher promíscua, que não devotava tempo e nem amor para o pequeno Nick, que cresceu vendo-a com outros homens. Logo dá para se notar que ele cresceu carente de amor, afeto e atenção.
Em vários momentos do filme podemos ver que o fantasma de sua ausente mãe continua lhe assombrando. É onde podemos notar algumas características do Complexo de Édipo.
O que é Complexo de Édipo?
Segundo Freud, quando somos crianças, criamos vínculos mais fortes com os nossos progenitores do sexo oposto: os meninos se sentem mais próximos de suas mães e as meninas se sentem mais próximas de seus pais (Complexo de Electra). Esses vínculos, geralmente vem com desejos amorosos e passionais para com o progenitor do sexo oposto, o que pode acarretar uma espécie de rivalidade para com o progenitor do mesmo sexo. Assim é o Complexo de Édipo: Quando o menino está no estágio de desenvolvimento psicossexual (mais ou menos entre os 3 e 6 anos de idade) ocorrem o desenvolvimento da líbido e do EGO. Nesse momento ele começa a fazer a distinção entre "menino" e "menina" e direciona todo o seu desejo e líbido para a figura feminina mais próxima, ou seja, a mãe. Para o pai, figura masculina, a criança direciona a rivalidade, já que é o pai que dorme com a mãe. A líbido deseja eliminar o perigoso elemento masculino (pai) de perto do elemento feminino (mãe), e é aí que entra o ciúme e o sentimento de posse. Porém o EGO traz a o menino para realidade, mostrando que o pai é o mais forte entre os dois que lutam pela "posse" da mãe.
Quando a criança cresce sem nenhum trauma, a fase onde o Complexo de Édipo se manifestou passa e o menino começa a ter mais entrosamento e contato com o pai.
Voltando ao filme...
Nick cresceu com uma figura materna "torta" que não lhe direcionava nem amor, nem carinho e muito menos atenção, e essa carência de afeto causou no garoto um sério trauma que ele acabou levando para o resto de sua vida. Quando ficou mais velho e sua mãe morreu, Nick já era um cirurgião renomado com a vida perfeita: era bonito, rico, com uma carreira profissional invejável e uma namorada que faz tudo por ele. Mas ao que parece, à algum tempo atrás ele teve um envolvimento sexual com uma mulher chamada Helena, por quem ele ficou totalmente obcecado desde então.
Helena é uma linda mulher de coração frio que sempre sai com caras diferentes. Ela é promíscua e ousada, com um vocabulário vulgar e maneiras "indelicadas", o que leva as pessoas á julgá-la como prostituta.
E é exatamente por ser assim que Nick se apaixonou perdidamente por ela, mesmo eles tendo um caso de "apenas uma noite". No desenrolar das cenas também é possível ver que Nick se transforma em uma espécie de Stalker, que observa e persegue sua vítima, ou seja, Helena. Ela se parece com a mãe de Nick e por isso, ele direciona para ela toda a sua líbido, paixão e amor resguardado. Ele vê em Helena a figura materna que sempre lhe faltou, com os mesmos modos e com os mesmos costumes de sair com caras diferentes. Só que ele a deseja sem medo do julgamento da sociedade.
Sendo assim, Nick busca sempre uma maneira de estar perto de Helena, e até mesmo dá uma festa em sua mansão apenas com o pretexto de convidá-la. Mesmo estando ao lado de sua namorada, ele não esconde o ciúmes ao vê-la banhar-se no chafariz, seduzindo um outro homem. Mas mesmo com ciúmes e de coração partido, Nick continua a amando e adorando, como se ela fosse um ser superior.
Helena deixa claro em praticamente todas as cenas que não ama Nick e que nem ao menos gosta dele, mas parece que quanto mais ela pisa nele, mais apaixonado ele fica.
No meio de tantos encontros arranjados por Nick, Helena acaba sendo atropelada por um carro que passa por cima de suas duas pernas. E é aí que o filme começa a ganhar contornos macabros. Nick decide operá-la em sua própria mansão, amputando-lhe as duas pernas. Quando Helena acorda da tal "cirurgia", ela percebe que é prisioneira de Nick. Em diversos momentos ela o insulta, o agride, mas nada muda para o apaixonado Nick.
Após uma desavença, Nick decide amputar-lhe os dois braços, tornando-a ainda mais dependente dele.
Ele vê Helena como um ser superior e isso fica extremamente claro quando vemos ela sem seus membros superiores e inferiores em uma espécie de "trono" adornado de flores e tudo mais. Sua figura continua bela, e Nick faz questão de deixar isso claro para ela, pois sempre diz: "Você está absolutamente linda, querida.".
Mesmo com esse vinculo de dependência para com Nick, Helena ainda continua vendo-o com indiferença e nojo, principalmente por sua impotência sexual e seu comportamento psicóticamente obcecado e possessivo.
Porém Nick muda, começando a reconhecer o homem dentro de si, que precisa cuidar de um ser tão lindo e, outrora independente, quanto sua amada. Aí podemos ver uma relação de igualdade se estabelecendo entre os dois, e Helena sente-se cada vez mais dependente dele.
Já o fim eu não vou detalhar aqui. Apenas direi que foi um tanto quanto frustrante e extremamente imprevisível. O final é um pouco confuso, mas mostra Nick de frente para uma réplica da escultura da Vênus de Milo, sem os braços, igual a sua amada Helena.
Conclusão...
Diferente da grande maioria, eu gostei muito do filme. Boxing Helena não é um filme "excelente", mas também não é tão repugnante e horrível como muitos dizem por aí. Acredito que o filme é incompreendido, já que aborda um tema não tão usual e é mais direcionado para um público específico.
A escolha de atores foi perfeita, já que Sherilyn Fenn trouxe para Helena toda a beleza e sensualidade que a personagem pedia e Julian Sands representou bem o "homem eternamente apaixonado que sempre fica a sombra de sua amada e que é capaz de loucuras para tê-la por perto".
As cenas são boas, mas a resolução do vídeo deixa a desejar, já que o DVD só toca bem em aparelhos específicos Blu-Ray. Mas isso é recompensado em diálogos inteligentes e interessantes e em cenas que saem da realidade, como Nick fazendo sexo com uma prostituta bem em frente a Helena.
Eu recomendo para quem quer assistir à um filme-enigma, já que você vai precisar vê-lo mais de uma vez para entender algumas cenas, ou simplesmente ver com bastante atenção! Ahhhh, a trilha sonora é incrível... tem essa música "Woman in Chains" do Tears for Fears que eu estou, sinceramente, APAIXONADA!!!!!!!!
Espero que tenham gostado desse post! E, sinceramente, espero que assistam ao filme, pois realmente vale muito a pena! Beijoss ;)